Um dia, Philip, nosso schnauzer mais jovem, parou de andar.
Eu o segurava pela barriga, levantava-o, e depois de soltá-lo, ele caía, como se suas pernas não estivessem funcionando.
Assustado, corri com ele ao veterinário, em Muscatine, Iowa, onde moramos por 7 anos.
A médica veterinária olhou para o cachorro e imediatamente fez o diagnóstico: ele tem um problema neurológico e nunca mais vai andar.
E ela começou a me treinar em como levantá-lo, usando uma toalha em volta da barriga, para ajudá-lo a fazer xixi.
Fiquei arrasado, pobre cachorro, tão jovem e sem andar nunca mais.
Diante da gravidade da situação, de alguma forma algo me veio à mente: esse cachorro está fingindo, “está se fazendo”, pensei.
Eu disse à médica que queria tentar algo. Peguei o cachorro, fui ao jardim da clínica, provavelmente cheio do cheiro de outros cachorros, e o coloquei na grama.
O Phillip imediatamente começou a andar, a cheirar tudo ao redor, e a fazer xixi. Milagre!
Eu trouxe o cachorro de volta para a sala da veterinária, nós dois perplexos, e ela ou ninguém até hoje pôde explicar o que aconteceu. Ele caminhou muito bem o resto de sua vida. Ou quase, mas por um motivo diferente.
—-
Muitos anos depois, numa manhã, o Phillip acordou e não conseguia descer as escadas. Ficou parado no segundo andar. Não sei como, mas percebi que ele não estava enxergando.
Eu o levei a um veterinário em St Louis, Missouri, onde morávamos na época, e o veterinário o enviou a um oftalmologista. O médico mediu o sinal do nervo ótico, zero. O cachorro estava permanentemente cego.
E eu não consegui curá-lo dessa vez.
O oftalmologista explicou que ele recebe um ou dois cães toda a semana com a mesma doença, Síndrome de Degeneração Retinal Adquirida Súbita (SARDS). Até agora, é algo idiopático, ninguém sabe o que causa a SARDS.
Mistérios do mundo dos cães.
—-
Talvez eu queira acreditar em uma lenda maia, onde os cães estão no céu, esperando para encontrar os donos novamente, para ajudá-los a cruzar o rio da vida eterna e viverem juntos para sempre.